domingo, 18 de dezembro de 2011

TE AMO MANAUS

Zirma dos viajantes,
paragem dos retirantes.

Paraiso dos ingratos,
anunciação do filho inato.

Tal qual Raíssa de Calvino,
és caos em pleno aconchego do ninho.

Ó minha cidade prenúncio,
amo-te sem anúncio!

(Carla Nagel)

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

domingo, 4 de dezembro de 2011

Santa Afro Catarina: Apresentação

Santa Afro Catarina: Apresentação: O programa  Santa Afro Catarina visa promover a identificação, a valorização e a difusão do patrimônio cultural associado à presença dos af...

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

A Morte e o Morrer na “Paris dos Trópicos”

Artigo apresentado na ANPUH - 2011


CARLA MARIA OLIVEIRA NAGEL

Introdução

Segundo Edinea Mascarenhas Dias , “A Manaus dos naturalistas vai se transformar na Paris dos Trópicos, na cidade moderna e elegante, na cidade do Fausto” (DIAS, 2007:27), a partir de 1890, com primeiro grande surto de urbanização e de acumulação de capital. A partir daí, modernizar, embelezar e adaptar Manaus passaram a ser exigências da época e a cidade que antes era um espaço comum, modifica-se, estratifica-se e ganha uma nova configuração:

A modernidade em Manaus não só substitui a madeira pelo ferro, o barro pela alvenaria, a palha pela telha, o igarapé pela avenida, a carroça pelos bondes elétricos, a iluminação a gás pela luz elétrica, mas também transforma a paisagem natural, destrói antigos costumes e tradições, civiliza índios transformando-os em trabalhadores urbanos, dinamiza o comércio, expande a navegação, desenvolve a imigração. É a modernidade que chega ao porto de lenha, com sua visão transformadora, arrasando com o atrasado e feio, e construindo o moderno e belo.(DIAS,2007:29)

Dias (2007) nos fala que a cidade, apesar de ter sofrido algumas modificações, a partir dos anos 70 do século XIX, até 1890 ainda conservava muito da antiga urbe e só quando se torna a capital do látex, “a idéia de projetar para o mundo a imagem de uma cidade moderna e civilizada” (DIAS,2007:34) torna-se prioridade.
As práticas de sepultamento em Manaus seguiram esse processo de transformação da cidade, pois vinham a algum tempo sendo gradativamente objeto de censura:

Faz publico que d’ora em diante serão enterrados os cadáveres no antigo Cemiterio dos Remedios, que se acha cercado e preparado, e não nos templos, e em lugares impróprios como até o presente tem sido feito, sob pena de ser multado o infractor em vinte mil réis, ou oito dias de prizão, como determina o artigo 5º do Codigo de Posturas em vigor. (ESTRELLA DO AMAZONAS, 7 de junho de 1854:3)

Por falta de operários na cidade e de materiais precisos para construção de um campo santo, este cemitério serviu de improviso, apesar da resistência popular e por estar situado no centro da cidade, contrariando os preceitos da salubridade pública:

(...) Me parece que pelo bem da salubridade publica devem cessar os enterros de cadaveres no lugar do largo da matriz, porque ahi se enterrão sem que se attenda que esse lugar não offerece garantia ao repouso dos finados e alem disso muitas vezes os que fazem as sepulturas não lhe dão a profundidade conveniente, e assim ficão expostos a serem profanados pelos cães, porcos e por estas e outras razões, como estar este lugar no centro da Cidade, e o continuado vento, que necessariamente hade conduzir os miasmas para os vivos, acho que se deve prohibir a continuação dos enterros n’esses lugares.(ESTRELLA DO AMAZONAS, 20 de abril de 1854:7)

Dois anos depois, finalmente é providenciado um novo espaço para os sepultamentos, com a construção do cemitério São José, mais afastado da cidade, mas nem por isso menos polêmico, pois, as queixas agora eram por ele estar localizado em um lugar de difícil acesso e separado da cidade por um largo e profundo igarapé.
Ainda em 1888, mesmo diante da incapacidade de ampliar seu espaço para novos sepultamentos, de não seguir mais os preceitos higiênicos e com um grande contingente de imigrantes nacionais e internacionais, o cemitério São José continuou a funcionar, como nos mostra o seguinte relatório:

Os enterramentos continuão a ser feitos no cemitério S.José, apesar de estar prompto o local que foi escolhido para servir de novo(...).
O Exm. Sr. Coronel Nyemaier quando na presidência desta província, contra a expectativa da meza administrativa, determinou que continuasse os enterramentos a ser feitos no actual, mandando augmental-o com uma cerca para o lado septentrional, o que de alguma maneira prejudicou os moradores da visinhança.
Se a Santa Casa dispozesse de meios, já teria mandado os enterramentos para o novo, cujo local foi julgado pelo corpo medico o mais apropriado para esse fim. (SANTA CASA DE MISERICORDIA DE MANAÓS, 20 DE Agosto de 1888. ANNEXO Nº 6:19)

Percebemos a partir desse relatório a emergência do discurso científico que começa a ser protagonizado pelos médicos da cidade que junto aos engenheiros, passaram a assumir o comando político. Com o fortalecimento do discurso científico, diante de uma conjuntura de surtos epidêmicos, e com a criação da primeira Junta de Higiene é inaugurado em 1891 o cemitério São João Batista de Manaus, reforçando a partir daí “a concepção médica de que as sepulturas e seus cadáveres eram focos de contaminação” (RODRIGUES, 1999:18). Será que a “Paris dos Trópicos” finalmente civilizará a morte?






A medicalização da morte em Manaus

O autor João José Reis , em seu trabalho sobre os ritos fúnebres na Bahia, nos fala sobre a influência francesa nos costumes fúnebres no Brasil, onde o médico foi ator principal, “um herói civilizador dos trópicos, onde “só o saber especializado do médico levantaria o Brasil à altura da civilizada Europa” (REIS, 1991:248).
Assim, com a França como modelo de civilização, as teses miasmáticas predominaram por um bom tempo, seja por meio de jornais ou relatórios, tornando-se centro de discussão a nível nacional. Desta forma Reis (1991) descreve os nossos médicos:

Nossos médicos eram dedicados caça-miasmas. Não era uma ocupação fácil. Os miasmas eram invisíveis, imprevisíveis e donos de muitos disfarces. Na tentativa de compreendê-los e combatê-los, os médicos discutiam e divulgavam os debates sobre o assunto, traduziam e publicavam autores europeus nos periódicos (REIS, 1991:252).

Ainda segundo Reis (1991), os médicos brasileiros, fortemente influenciados pela medicina francesa, “pretendiam ver aqui repetidas as soluções européias para o problema dos enterros” (REIS, 1991:248) e numa verdadeira “revolução cultural” criaram o “homem higiênico”. Para que isso fosse alcançado, foi exigido por eles o fim do funeral-espetáculo e o ocultamento do morto, que seu corpo fosse envolvido em panos assépticos, encerrando-o em caixões fechados e segregando-o em cemitérios distantes. A partir daí podemos perguntar: Isso foi seguido em Manaus?
É possível verificar através dos Códigos de Posturas e dos Relatórios da Intendência de Manaus, principalmente em tempos de epidemias, a influência da medicina francesa e de suas teorias miasmáticas nas práticas adotadas pelos médicos, onde os cemitérios e os enterramentos tinham que seguir algumas regras quanto a forma de envolver os corpos e fechar os caixões, além da proibição de sons que lembrassem a morte.
Além da morte asséptica e inodora, Reis (1991) nos fala sobre a “vigilância auditiva” que, segundo os médicos, agravavam algumas doenças e alteravam as faculdades intelectuais e morais. Em Manaus, podemos constatar a forte influência dessa idéia, neste curioso relatório ainda em 1912:

Por ocasião do infausto passamento do vigário geral do bispado, ocorrido em Portugal, fui procurado por um sacerdote, que me solicitou permissão para que as egrejas da cidade pudessem, com seus sinos, sentimentar a morte do pranteado vigário.
Infelizmente, à vista dos termos rigorosos da lei, não pude satisfazer o desejo do digno sacerdote. (CONSELHO MUNICIPAL DE MANAÓS, 1912).

Entretanto, quanto ao fim do funeral-espetáculo e da segregação dos cemitérios, verificamos que em Manaus esse projeto não aconteceu de forma harmoniosa, assim como nem sempre foi harmoniosa a sintonia dos engenheiros responsáveis pelas obras públicas com o discurso dos médicos, como nos mostra este relatório da Intendência Municipal de Manaus, apresentando a necessidade urgente de intervenção de inumações no cemitério São João Batista por estar:

(...) situado nas cabeceiras dos igarapés da Castelhana, Aterro e Manaós e na vertente sobre a qual está edificada a cidade.
Os ventos dominantes, soprando na direção sudoeste, arrastam para a cidade os germes deleterios que saturam a atmosfera (...)
O solo argiloso, demonstram que esses terrenos são os mais impróprios para os cemitérios, porque neles a decomposição dos cadaveres é muito lenta. (INTENDÊNCIA MUNICIPAL DE MANAÓS, 1901)

O relatório repete as observações que já tinham sido feitas em 1897 pelo engenheiro chefe da extinta comissão de saneamento. Também cita a existência do reservatório da cidade para falar do perigo de contaminação das águas em Manaus, por estar próximo ao referido cemitério. Ao final o relator pede um novo local mais afastado da cidade para sepultamentos, e sugere também que o cemitério São João Batista seja destinado apenas a jazigos e monumentos. É a partir daí que começamos a perceber mais claramente a importância desse novo cemitério, como um espaço de afirmação e monumentalidade, pois apesar do alerta, o cemitério São João Batista permaneceu no mesmo local.


Cemitério São João Batista de Manaus: da morte regulada a morte cívica.

Inaugurado em sessão solene em 1891, com o sepultamento do médico baiano Dr. Aprígio de Menezes e com direito a toda pompa, o cemitério São João Batista de Manaus, surge junto com o grande surto de urbanização da cidade e com a “necessidade da cidade se apresentar moderna, limpa e atraente, para aqueles que a visitavam” (DIAS, 2007:28).
Antonio Motta , em sua pesquisa sobre estilos mortuários e modos de sociabilidade em cemitérios oitocentistas, nos fala que no final do século XIX ocorreram mudanças e também acomodações significativas nas relações afetivas que os vivos estabeleceram com os mortos, quando estes foram levados para fora da cidade, onde a partir daí, os túmulos passaram a preencher o espaço anteriormente ocupado pela igreja.
Segundo Motta (2010), os cemitérios oitocentistas passaram a reproduzir a própria sociedade, seja com cenários de igrejas e capelas, em escalas reduzidas, seja com morfologias laicizadas, assemelhando-se às residências de seus proprietários. Assim, essa “relativa descristianização”, foi compensada pelo culto da memória e da recordação, realçando os aspectos da vida social, cívica e patriótica da nação.
Como prioridade no processo de urbanização da cidade, o cemitério São João Batista de Manaus, transforma-se então nesse espaço cívico e de transição da “pequena aldeia à grande urbe” (DIAS, 2007:42), tornando-se o retrato da cidade:

Como na cidade dos vivos, cuja face mais visível se revela através da renovação do tecido urbano, com o alargamento de ruas, edificação de praças, de monumentos, de prédios públicos e de imponentes palacetes privados, os cemitérios tornavam-se igualmente cenários privilegiados, nos quais deveria se desenrolar o grande espetáculo do último destino. (MOTA, 2010:69).


Considerações finais

Falar da morte e do morrer na “Paris dos Trópicos”, significa falar de como se construiu um discurso social, político e urbanístico mais amplo, que não foi por muitas vezes, convincente para produzir em curto período as transformações da cidade ideal no ritmo que se queria, mas onde “o velho molda-se ao novo, e vice-versa, onde não cabem transformações radicais, mas lentos arranjos na ordem estabelecida, nos quais a força da persistência é imensa e as mudanças, sempre relativas”. (Cymbalista, 2002:53)
Os mortos pesaram decisivamente na organização da cidade , quando geraram tensões, conflitos, negociações, tornando-se indicadores do nível de urbanidade e civilidade, seja quando imprimiram-lhe um caráter científico seja quando imprimiram-lhe um caráter cívico.

sábado, 24 de julho de 2010

Quando eu morrer, digam que fui do tempo de Thiago de Mello...



"Esse homem das selvas amazônicas, que reaparece como um partisan, abrindo uma brecha na selva da violência..." (Otto Maria Carpeaux)
Vida longa ao poeta-esperança !!!

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Memórias de um Arigó



"Cearense vai ao norte
Sonhando áureos castelos
Sai daqui robusto e forte
Volta magro e amarelo..."

Por uma nova história dos nordestinos :

Quem foram essas aves migrantes ? Quem foram esses Paroaras ? Quem eram esses alerquins ? Quem foram esses párias ?
São perguntas que me inquietam, são histórias e vidas fragmentadas, esquecidas, mas que estão em cada canto da cidade, em muitos rostos, em sotaques, misturados, esperando por um olhar, por uma memória, por uma história...
Invoquemos clio !!!

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010


À Poesia

Bendita sejas poesia...
ao me tirar da agonia,
e dessacralizar os meus dias...

Bendita sejas poesia...
ao me acordar do sono profundo
e perceber que o mundo
é um grande soneto monostrófico.

(Carla Nagel)